Doação de órgãos: um doador pode salvar até oito vidas, diz especialista
O Brasil é referência em transplante de órgãos e possui o maior programa público do procedimento no mundo — cerca de 90% das cirurgias é feita no Sistema Único de Saúde (SUS). A doação de órgãos é essencial nesse processo. No entanto, de cada 14 pessoas que manifestam interesse em doar, apenas quatro acabam, de fato, efetuando a doação. O principal motivo para isso ainda é a resistência das famílias.
Ao longo da conversa, os especialistas destacam a importância de um sistema de doação e transplantes no Brasil, que, além de órgãos, também inclui córnea, ossos e pele.
“A gente faz uma conta que um doador pode salvar cerca de oito vidas”, afirma Bacal. Além disso, o especialista ressalta que a doação pode melhorar a qualidade de vida e dar mais dignidade a quem recebe.
Fernandes explica mais sobre a importância desse tipo de doação. “Hoje, nós temos uma epidemia de trauma de moto, por exemplo, na cidade de São Paulo. Muitas vezes, se perde substância óssea, ou seja, perde o osso da perna, do braço, ou pele, com grandes queimaduras”.
Sistema de transplantes de órgãos no Brasil
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil é, em números absolutos, o segundo maior transplantador do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. A rede pública de saúde fornece aos pacientes assistência integral e gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante.
Só em 2023, foram realizados quase 26 mil transplantes de órgãos, tecidos e medula óssea, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Entre janeiro e março de 2024, ocorreram cerca de 6,7 mil cirurgias, sendo mais de 1,3 mil relacionadas ao rim.
“Do ponto de vista de legislação, acho que talvez o país seja o mais equitativo”, diz Fernandes. O especialista acredita que as regras para o sistema de transplantes funcionar são um estímulo à doação. “Essa questão de ser uma lista única por gravidade, e não por qualificação social ou administrativa, é o que motiva as pessoas a doarem, porque elas sabem que o órgão delas vai ser bem utilizado, vai ser utilizado por quem de fato precisa”.
“A gravidade é o que manda, independentemente da classe social do paciente. O critério que leva um paciente a fazer um transplante é a prioridade clínica e o tempo de espera em fila. Então, transplante não tem nenhum privilégio social e econômico. Os pacientes estão em posições iguais”, complementa Bacal.
Os órgãos cuja lista de espera é maior são rins, fígado, coração e pulmão. “No Brasil, se realiza mais ou menos 6 mil transplantes de rim por ano, 2.200 de fígado, aproximadamente 350 de coração e 100 de pulmão, por ano. E as filas são mais ou menos compatíveis com esse número. Ou seja, a maior fila é de rim, a segunda maior é de fígado, a terceira maior é de coração, e a quarta maior é de pulmão. Obviamente isso oscila, e tem estados que têm maior fila e outros, menor fila”, afirma Fernandes.
Como funciona a doação de órgãos?
No Brasil, a doação de órgãos e tecidos de pessoas falecidas só é realizada após a autorização familiar. Com isso, mesmo que a pessoa tenha dito em vida que seu desejo era se tornar um doador, se possível, apenas os familiares podem realizar a decisão final. Se a família não autorizar, os órgãos não serão retirados.
O doador falecido pode doar órgãos como: rins, coração, pulmão, pâncreas, fígado e intestino; e tecidos: córneas, válvulas, ossos, músculos, tendões, pele, cartilagem, medula óssea, sangue do cordão umbilical, veias e artérias.
A doação também pode ser feita por um doador vivo, que deve ser maior de idade e juridicamente capaz, saudável e consentir com a doação, desde que não prejudique a própria saúde. Além disso, pela legislação brasileira, parentes de até quatro graus e cônjuges podem ser doadores. A doação de órgãos de pessoas vivas que não são parentes do receptor é feita mediante autorização judicial.
Um doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula ou parte dos pulmões, a compatibilidade sanguínea é necessária em todos os casos. Para doar órgão em vida, o médico deverá avaliar a história clínica do doador e as doenças prévias.
“A doação intervivos cabe muito bem quando por qualquer motivo seja muito difícil conseguir um doador cadáver. Por exemplo, uma criança que tem uma fibrose cística e que é pequenininha, tem que transplantar pulmão. Então, ou você reduz um doador cadáver, ou você capta um lobo do pai e um lobo da mãe”, explica Fernandes.
Esse procedimento, cuja técnica avançou muito nos últimos anos, é bem regulamentado por lei. “Tem que ter um parentesco até quarto grau em relação a quem vai receber. Ou cônjuge, que também pode receber ou doar. Se não for nesses casos, só com autorização judicial”, afirma Bacal.
Futuro da doação de órgãos
Segundo os especialistas, o que precisa melhorar ainda hoje no Brasil é a pulverização de centros especializados. Bacal afirma, por exemplo, que na região norte não tem nenhum, o que pode dificultar a captação e o implante. No caso do coração, por exemplo, que tem menor resistência, os especialistas precisam realizar todo o processo em torno de 4 a 5 horas. “Se você tiver um doador no Amazonas para usar em São Paulo, já não dá tempo”, afirma Fernandes.
Os dois também ressaltam que esse processo é rigorosamente regulamentado. “A morte cerebral no Brasil é super checada, muito mais do que em outros países. A nossa legislação é muito restrita, é super rigorosa, para ter certeza de que não há nenhuma dúvida de que aquele paciente tem morte encefálica. Portanto, não tem nenhum risco de ser utilizado órgão de alguém que não tenha falecido”, afirma Fernandes.
O “CNN Sinais Vitais – Dr. Kalil Entrevista” vai ao ar no sábado, 02 de novembro, às 19h30, na CNN Brasil.
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