Mãe de Cantora Trans Assassinada em Sinop Desabafa: "Não Choro Mais, Já Chorei Tudo"
Em entrevista à Folha de São Paulo, Nilda, visivelmente abalada, revelou que, após tantas lágrimas derramadas, já não tem mais forças para chorar
A tragédia que abalou a cidade de Sinop, no norte de Mato Grosso, continua a reverberar em todos os cantos da comunidade. Nilda Salete dos Santos, mãe do cantor trans Gabriel Santos Rosa, conhecido artisticamente como Santrosa, de 27 anos, encontrado morto no dia 10 de novembro de 2024, desabafou sobre a dor insuportável que sente após perder seu filho de forma brutal. Gabriel, que foi também candidato a vereador nas eleições municipais de 2024 pelo PSDB, foi vítima de um crime violento, sendo decapitado e encontrado com as mãos e os pés amarrados. O caso gerou comoção e levantou questões sobre as motivações por trás do assassinato.
A Linha de Investigação e o Desapego da Família
A Polícia Civil de Mato Grosso descartou a hipótese de transfobia como motivação para o crime, apontando que a principal linha de investigação envolve uma possível ligação com a facção criminosa Comando Vermelho, em um contexto relacionado ao tráfico de drogas sintéticas. Segundo o delegado Braulio Junqueira, a facção teria ordenado que Gabriel parasse com a venda de drogas, e, por não ter obedecido, foi executado de maneira covarde. "Reviraram bastante a residência, mas não sabemos se encontraram a droga", afirmou Junqueira.
No entanto, a família de Gabriel discorda dessa versão. Para Nilda, a ideia de que seu filho estivesse envolvido com drogas ou facções criminosas não faz sentido. "Nunca ouvi falar que ele tivesse envolvimento com drogas. Nunca vi ele usando drogas. Eu só quero que a justiça seja feita, mas sem manchar a imagem do meu filho", destacou, reafirmando o caráter bondoso de Santrosa.
O Legado e a Luta Política
Além de sua carreira musical, Gabriel estava envolvido em projetos voltados para a cultura das comunidades periféricas de Sinop. Ele defendia pautas sociais importantes e, se tivesse sido eleito, se tornaria a primeira mulher trans a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal. Sua luta por mais representatividade e oportunidades para as minorias foi uma de suas bandeiras durante a campanha. O cantor também mantinha um canal no YouTube, onde divulgava seus clipes, com mais de 4.000 inscritos.
Gabriel se destacou ainda no cenário local ao representar Sinop na competição Miss Gay Mato Grosso em abril deste ano. Sua mãe, Nilda, era responsável pelas roupas que ele usava nas apresentações, incluindo o vestido que Gabriel usou para a competição, um feito feito com carinho e dedicação, com o apoio incondicional de sua mãe.
Clamor por Justiça
O caso de Gabriel gerou comoção e protestos nas redes sociais e entre organizações de direitos humanos. A Associação da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Mato Grosso exigiu uma investigação rigorosa e o esclarecimento do caso, cobrando justiça pela morte de uma jovem que se dedicava à luta pela cultura, pelos direitos humanos e pela visibilidade das pessoas trans na política e na sociedade.
O assassinato de Gabriel levanta questionamentos sobre a violência e a discriminação enfrentadas por pessoas trans no Brasil, além de alertar para a necessidade de maior proteção e respeito à diversidade. O clamor por justiça continua a ecoar, com a expectativa de que os responsáveis pela morte brutal do cantor sejam encontrados e punidos, garantindo que sua história não seja esquecida.
Já se passaram 15 dias desde o crime, e a busca por respostas continua.
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