Estrelas rápidas sugerem buraco negro massivo na Grande Nuvem de Magalhães

A Grande Nuvem de Magalhães é uma galáxia anã localizada próxima à Via Láctea, visível a olho nu como uma mancha luminosa no céu do hemisfério sul da Terra. Seu nome homenageia o explorador português Fernão de Magalhães, que a observou há cinco séculos. Novas pesquisas estão aprofundando nosso entendimento sobre a composição dessa vizinha galáctica.
Acredita-se que a maioria das galáxias abrigue uma estrutura desse tipo em seu núcleo, mas esta é a primeira evidência concreta de um dentro da Grande Nuvem de Magalhães.
Segundo os pesquisadores, os dados sobre a trajetória dessas estrelas indicam que elas foram ejetadas da Grande Nuvem de Magalhães após um encontro violento com esse buraco negro. Esses são objetos extremamente densos, com uma gravidade tão intensa que nem a luz consegue escapar.
Esta galáxia está localizada a cerca de 160 mil anos-luz da Terra, sendo uma das mais próximas da Via Láctea. Isso faz com que este seja o buraco negro supermassivo mais próximo de nós, além do chamado Sagitário A* (Sgr A*), que fica no centro da Via Láctea, a cerca de 26 mil anos-luz da Terra. Um ano-luz equivale à distância que a luz percorre em um ano, aproximadamente 9,5 trilhões de quilômetros.
Assim como nossa galáxia é muito mais massiva do que a Grande Nuvem de Magalhães, nosso buraco negro é muito mais massivo do que o recém-identificado, que está entre os menores supermassivos conhecidos. Enquanto Sgr A* tem uma massa cerca de 4 milhões de vezes maior que a do Sol, este buraco negro tem uma massa aproximada de 600 mil vezes a do Sol.
Sgr A*, por sua vez, é minúsculo em comparação com alguns buracos negros supermassivos detectados em outras galáxias maiores, como o da Messier 87, cuja massa é 6,5 bilhões de vezes maior que a do Sol. Essa estrutura, junto com a da Nuvem de Magalhães, são as únicas duas já fotografadas por astrônomos.
O novo estudo se concentrou em uma classe de estrelas chamada estrelas hipervelozes. Elas são formadas quando um sistema binário — dois corpos gravitacionalmente ligadas — se aproxima demais de um buraco negro supermassivo.
“As forças gravitacionais intensas separam o par. Uma estrela é capturada em uma órbita apertada ao redor do buraco negro, enquanto a outra é lançada para fora em velocidades extremas — muitas vezes superiores a milhares de quilômetros por segundo — tornando-se uma estrela hiperveloz”, explicou Jesse Han, doutorando em astrofísica da Universidade de Harvard e autor principal do estudo, que será publicado no Astrophysical Journal e divulgado na última quinta-feira (5).
O Sol se desloca pelo espaço a cerca de 720 mil km/h, enquanto as estrelas hipervelozes podem atingir várias vezes essa velocidade.
Os pesquisadores utilizaram dados do observatório espacial Gaia, da Agência Espacial Europeia, que mapeou mais de um bilhão de estrelas da nossa galáxia com precisão sem precedentes.
Há 21 astros hipervelozes conhecidos na Via Láctea. Os astrônomos identificaram com confiança a origem de 16 deles: sete foram rastreados até Sgr A*, no centro da nossa galáxia, enquanto as outras nove foram associadas à Magalhães.
“A única explicação plausível é que a Grande Nuvem também abriga um buraco negro supermassivo em seu centro, semelhante ao Sgr A* da Via-Láctea”, disse Han.
“Dado seu tamanho e estrutura, era totalmente esperado que a galáxia vizinha tivesse um buraco negro supermassivo dessa magnitude. Só precisávamos encontrar evidências disso”, acrescentou Han. “É algo empolgante e, ao mesmo tempo, faz todo o sentido.”
Até agora, o buraco negro supermassivo mais próximo da Via Láctea conhecido ficava na galáxia de Andrômeda, a cerca de 2,5 milhões de anos-luz da Terra, a mais próxima de nós.
“A Grande Nuvem de Magalhães é uma das galáxias mais estudadas, e ainda assim a existência desse buraco negro supermassivo só foi inferida indiretamente, rastreando a origem de estrelas rápidas. Ainda temos muito trabalho a fazer para realmente localizar o buraco negro”, disse o astrônomo do Caltech e coautor do estudo, Kareem El-Badry.
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