Operação Iscariotes: Crimes Ambientais e Grilagem de Terras no Norte Araguaia de Mato Grosso
Durante a operação, os agentes constataram diversas infrações ambientais em uma área rural invadida, incluindo:

No dia 25 de fevereiro de 2025, uma força-tarefa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em parceria com a 3ª Companhia Independente de Polícia Militar de Proteção Ambiental (CIPMPA) Araguaia, deflagrou a Operação Iscariotes na região de Porto Alegre do Norte, extremo nordeste de Mato Grosso. A ação visava combater crimes ambientais e revelar conexões com esquemas de grilagem de terras e corrupção no sistema judiciário.
Crimes Ambientais e Flagrantes
Durante a operação, os agentes constataram diversas infrações ambientais em uma área rural invadida, incluindo:
- Drenagem irregular: Valas abertas e escoamento de água sem licença, alterando o solo para uso agropecuário.Publicidade
Caça ilegal: Abate de animais silvestres e presença de armadilhas e armas utilizadas para caça predatória.
Posse ilegal de armas e munições: Grande quantidade de munições e armamentos, usados tanto para caça quanto para intimidação de moradores locais.
Os crimes ambientais registrados evidenciam um padrão de degradação ambiental sistemática. A drenagem clandestina destrói nascentes e brejos, enquanto a caça ilegal impacta diretamente na fauna local. A operação revelou ainda um cenário de desmatamento progressivo, típico de esquemas de grilagem.
Prisões e Apreensões
No local da abordagem, os agentes prenderam em flagrante Lucas Zandona Moresco e Valdir Roberto Moresco, capangas que atuavam em nome de Adenilson da Silva Melo, apontado como líder do esquema criminoso. Com os suspeitos, foram apreendidas espingardas, munições de diversos calibres, além de carcaças de animais silvestres abatidos.
A Polícia Militar Ambiental deu voz de prisão aos infratores, que foram conduzidos à Delegacia de Porto Alegre do Norte. Multas ambientais no valor de R$ 310 mil foram aplicadas e a propriedade rural foi embargada, proibindo qualquer atividade sem autorização legal.
Grilagem de Terras e Conexões Criminosas
As investigações apontam que Adenilson da Silva Melo, 51 anos, é um dos maiores grileiros do Brasil, com histórico de fraudes documentais e apropriação de terras. O esquema identificado em Porto Alegre do Norte já havia sido registrado em outros municípios, como Novo Mundo (MT), onde o criminoso utilizou títulos questionáveis para reivindicar uma área de 3.380 hectares.
O modus operandi da quadrilha envolvia a ocupação ilegal de terras, seguida por desmatamento, drenagem e falsificação de documentos para obtenção fraudulenta da posse. A estratégia incluía ainda ameaças a pequenos produtores e comunidades tradicionais, que frequentemente eram forçadas a abandonar suas terras.
Corrupção no Judiciário
A operação revelou possíveis ligações do esquema com o sistema judiciário, incluindo suspeitas de venda de sentenças e envolvimento de servidores públicos. Valdirene, esposa de Adenilson, atuou como oficial de justiça na comarca de Porto Alegre do Norte e teria facilitado a expedição de mandados de desocupação fraudulentos. Segundo relatos, sua filha também foi inserida no fórum da comarca para monitorar processos de interesse da quadrilha.
A Polícia Federal identificou irregularidades em pelo menos 14 processos no Superior Tribunal de Justiça (STJ), incluindo possível envolvimento de ministros. Além disso, investigações indicam que decisões judiciais foram manipuladas por advogados ligados ao esquema, incluindo Anderson Gonçalves de Oliveira, apontado como lobista e intermediador da venda de sentenças.
Impacto Ambiental, Social e Jurídico
A operação interrompeu o processo de degradação ambiental em uma área de grande importância ecológica. Com o embargo, as atividades ilegais foram cessadas, permitindo a regeneração da vegetação e a preservação da fauna local. Especialistas alertam, no entanto, que os danos causados, incluindo a caça de espécies nativas, podem ter impactos irreversíveis.
Socialmente, a ação trouxe alívio para moradores da região, que viviam sob constante ameaça da quadrilha. Muitos posseiros estavam prestes a perder suas terras devido à fraude fundiária, e a atuação das autoridades restaurou a confiança na justiça.
Do ponto de vista legal, a operação fortaleceu as investigações em curso. As provas recolhidas – documentos, armas, equipamentos e depoimentos – serão utilizadas para fundamentar ações criminais contra os envolvidos. O Ministério Público Federal e Estadual estão atuando conjuntamente para processar os suspeitos por crimes ambientais, grilagem e corrupção.
Conclusão e Próximos Passos
A Operação Iscariotes expôs um esquema criminoso complexo, que interligava crimes ambientais, grilagem de terras e corrupção judicial. A prisão dos primeiros envolvidos pode levar à desarticulação da quadrilha, mas as autoridades ainda buscam Adenilson da Silva Melo e outros envolvidos.
A repercussão do caso já gerou mobilizações políticas, com cobranças para uma investigação rigorosa sobre o possível envolvimento de juízes e advogados. O Ministério Público segue acompanhando o desdobramento das denúncias e novos mandados de prisão podem ser emitidos nos próximos meses.
O sucesso da operação reforça a necessidade de ações integradas entre órgãos ambientais, forças de segurança e instituições judiciárias para combater crimes na Amazônia Legal. Enquanto o desmatamento ilegal e a grilagem de terras persistirem, novas ações como essa serão essenciais para proteger o meio ambiente e garantir a justiça no campo.
A equipe do Portal Olhar Cidade continuará acompanhando as investigações e trará atualizações sobre o caso assim que houver novos desdobramentos.
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